das virgens que as jogam nas bruxas."
Eu preciso confessar algo. Sou sim um analfabeto sentimental. Descobri esse termo a poucos meses e desde então venho me trabalhando. Aceitar isso é um pouco difícil, mas a partir do momento que você se reconhece em algo sua vida passa a ter mais sentido. Creio que seja a mesma epifania de quem se descobre viciado em drogas ou sexo. Mas ser analfabeto sentimental é complicado, ainda mais quando você vive num mundo cercado de gente e relacionamentos.
Vou me resumir um pouco. Nascido em bairro periférico, pai e mãe trabalhadores suburbanos, pai alcóolatra, mãe submissa. Dessa fina mistura nasceu essa flor. Não, não estou parodiando Machado de Assis, mas a vida como eu a vejo só faz sentido se eu a descrever assim. Não saberia dar detalhes gerais, não poderia chegar aqui e dizer sou assim. Tentarei fazer isso a partir de fatias bem cortadas da minha vida, e de cada pedaço tentar extrair o porque do todo. Um pedaço ou outro não faz sentido sozinho, ele só faz sentido no conjunto. Por isso, através daqui não tente me entender. Afinal, as fatias serão tantas e tão disformes que não creio que eu chegue ao final para uma descrição válida.
Cabe aqui um agravante. Não sou único. Dentro de mim vivem muitos. A cada dia e a cada situação surge um de mim capaz de lidar com isso, ou não. Às vezes surgem aqueles incapazes de lidar com a situação. E esses tem sido os que mais me visitam.
Daí minha epifania pelo analfabeto sentimental. Não sei lidar com relacionamentos como esperam que eu lide. Na verdade, olho para os outros, os vejo, e não entendo como eles se relacionam. Tudo me parece tão bruto, tão fútel, tão raso. Pra mim é tudo tão intenso. E eu de tanto forçar me entrego, fico raso como eles. E são tantos aqui, e são tantos ali. A análise combinatória disso tudo tende a um infinito agoniante.
Em algum momento me perdi, vou agora tentar me localizar e outra hora volto pra falar de mim.
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